Guaratuba/PR ... 18/11/2011

Se até o dia anterior eu estava em dúvida, tive agora que tomar a decisão sobre qual caminho tomar para seguir minha viagem: se o da serra ou o do litoral. Independente de qual caminho eu escolhesse, sabia que a partir dali seria só Deus e eu. Mesmo sem conhecer Itapoá até dois dias atrás eu sabia que quando chegasse seria recebido com hospitalidade pela Ori e o Neri.

Tomei um rápido café e enquanto traçava a rota em minha mente, fui arrumando a bike e a bagagem, com alguns presentes que havia ganhado de minha amiga: uma capa de chuva sem mangas, uns refletores de raios para as rodas da bicicleta e uma espécie de spray líquido para preencher furos no pneu. Agradeci muito os presentes, pois todos haveriam de ser muito úteis. Ela os trouxe da Alemanha, onde morou por mais de vinte e cinco anos e teve dois filhos que vivem lá até hoje. A Ori é uma pessoa fantástica, muito “Up” e super generosa. Já que estava perto do meio-dia, ela me convenceu a ficar para o almoço e partir só à tarde. O Neri fez um peixe recheado. Não sei qual a raça....rsss, mas estava uma delícia.

Depois do almoço me despedi e segui meu rumo ainda meio incerto de por onde passaria!

Há algumas semanas atrás quando tentava conseguir uma “bike emprestada” para fazer a viagem, conversei com alguns amigos e até ciclistas desconhecidos, buscando por dicas de alguém que já havia feito algo parecido. Tomei um susto quando o dono de uma das maiores bicicletarias de Blumenau me disse que três clientes dele tentaram ir de Blumenau à São Paulo de bike e não conseguiram. Dois deles eram atletas e o terceiro tinha um bom porte e condicionamento físico, jogava futebol e pedalava com certa freqüência. Partiram e chegaram um pouco além da metade do caminho, desistiram e voltaram de ônibus, por causa da falta de resistência do amigo que não era atleta profissional. Enfim, como já disse antes, o adjetivo que mais ouvia era o de “Maluco”. Diziam que era loucura o que eu estava pretendendo. Ir sozinho do Sul ao Rio de Janeiro, sem preparo físico algum, sem dinheiro e sem conhecer o caminho. Isso sem contar com os inúmeros riscos do trajeto. Mas eu não dei ouvidos, pois conheço o tamanho do meu amor e da minha fé! Mesmo assim tomei algumas precauções...

Ouvi dizer que o caminho da serra é muito perigoso para se fazer de bicicleta, pois o trajeto, entre a capital Paranaense “Curitiba” e a cidade Paulista de “Registro”, é muito deserto. Um trecho de aproximadamente 220 km sem cidades próximas a rodovia que malmente posto de combustível tem. Sabendo que eu estava pedalando em média 70 km por dia, eu iria demorar uns três dias para fazer esse percurso tendo que dormir na beira do asfalto, sem ter certeza se iria comer e principalmente encontrar água para beber. Em contra partida me disseram que, se eu resolvesse ir pelo litoral, sempre haveria cidades próximas umas das outras ou pelo menos vilas de pescadores, onde seria mais fácil de encontrar abrigo, comida e água. Porém, passaria por trechos sem estradas ou pontes e por vezes teria que pedalar na areia da praia e cruzar por balsas, outras vezes seria obrigado a pedalar pela movimentada e perigosa BR -101.

Coloquei tudo na balança e tomei minha decisão. Resolvi seguir pelo litoral!

Antes ainda de sair de Itapoá dei uma olhada rápida no google maps para ver a distância até a próxima cidade. Guaratuba, já no estado do Paraná! Aproximadamente 65 km. Bastante para percorrer em uma tarde, mesmo sabendo que eu já havia conseguido pedalar 143 km em um único dia. Mas não estava a fim de repetir a dose...

O caminho foi tranqüilo e fiquei super feliz no momento em que cruzei a divisa dos estados, mas ainda faltavam uns bons kilômetros a serem pedalados até a cidade. Durante todo o percurso vi muito verde e quase sempre que dava uma pausa para descansar ou reabastecer o cantil era atacado pelas butucas. Um inseto miserável a quem fui apresentado em Itapoá e parece ter muitos parentes em toda essa região... Lembram da foto que tirei na oca da reserva fazendo a dança da butuca? Pois é, oh bichinho triste e que picada doída que tem!

Cheguei a Guaratuba por volta das 18h30min. A primeira cidade do litoral sul do Paraná é simplesmente linda. 

Chegando e entrando na cidade de Guaratuba! Clique aqui pra ver!

Aproveitei para tirar algumas fotos já que decidi não ficar até o dia seguinte... pois soube que estava perto da balsa que cruza a Baía de Guaratuba até a cidade de Matinhos e como ainda estava claro resolvi tentar chegar até lá.

 Chegando lá, não consigo me conter, + algumas imagens ... ;-)

 

 Morro do Cristo: Belo ponto turístico desta linda cidade. Disseram-me que a vista é linda lá de cima. Até posso imaginar, mas infelizmente não tive tempo para mostrar e conhecer!

Com freqüência a mãe natureza nos dá exemplos de vida, eis aqui mais um: O exemplo de uma “Mãe Coruja”, literalmente, cuidando com todo zelo de seus filhotes!

Acho que acabo de descobrir o porquê do termo “Mãe Coruja”... olha só o cachorro levando a maior rasteira... hehehe. Consegui flagrar o momento!

Para chegar até a balsa tive que subir um morro bastante íngreme e quando eu pegava embalo para fazer à subida o pisca traseiro, que ficava preso logo embaixo do bagageiro, quebrou... O bagageiro não suportando tanto peso cedeu e encostou na roda, que acabou jogando o pisca pra longe. Juntei os pedaços para ver se conseguiria arrumar mais tarde e segui em frente.

Cheguei até a baía, à balsa estava mesmo saindo. Uma ótima notícia foi que pedestres e ciclistas não pagam.

 

Mais um casal que me ajudou comprando um adesivo, infelizmente não lembro o nome deles, mais fica aqui meu sincero agradecimento "Valeu pessoal, muito obrigado!"

Durante a travessia, um espetáculo à parte: “O pôr do sol na baía de Guaratuba”. Vou me despedindo da cidade com este belo presente da natureza...