Acordei ainda em Santa Cruz e, depois de tomar café na mesma padaria, fui a uma Lan house, onde fiquei ainda por um bom tempo até porque precisava tentar conseguir alguns contatos no PROJAC e fiquei pesquisando na net. Almocei ainda no bairro e a tarde segui em frente rumo a Jacarepaguá.
Rio 2014. Muitas obras...
No caminho, quando descia o morro
da ilha, a poucos kilômetros do PROJAC, mais um pneu furado. O nono do caminho!
Parei pra fazer o remendo num
posto de gasolina perto dali, o posto Forza que fica na descida da serra de Santa Cruz. Mais uma vez, foi por causa de arame de pneu de
caminhão. Tinha muito pelos acostamentos!
Ali mesmo em frente ao posto,
abordei algumas pessoas, para saber se havia alguma igreja nas proximidades. Já
que estava escurecendo e eu precisava achar um lugar para dormir.
Um casal me indicou uma igreja
evangélica, não muito longe dali.
Pedalei pela Estrada dos
Bandeirantes e cheguei já à noite numa Igreja da Assembléia de Deus, que ficava
em uma das comunidades de Vargem Grande.
Entrei no pátio para esperar o
culto acabar e falar com o pastor. Nisto, um fiel, me convidou para entrar e
assistir o culto com eles, mas eu estava todo suado e preferi esperar do lado
de fora. Ele insistiu e eu acabei entrando, depois de tirar o capacete e me
lavar no banheiro.
Terminado o culto, procurei o
pastor. Contei toda a história e pedi abrigo. Mas ele disse que não poderia me
deixar dormir ali, pois se algo acontecesse comigo ou com as dependências da
igreja, ele teria que se responsabilizar e esta era uma decisão que não
dependia somente dele, mas também da direção da igreja e no dia, alguns membros
não estavam lá. Mesmo assim me ofereceram
comida, havia um encontro de casais. Já era tarde e eu não tinha
nem noção de onde iria dormir. Eu estava na rua em frente à igreja junto com
alguns fiéis que tentavam me ajudar, pensando em algum lugar onde eu pudesse
pedir abrigo.
De repente enquanto
conversávamos, vi um homem chegar caminhando e um dos fiéis falou:
Apontando para o homem que
tinha acabado de chegar. Olhei para o lado e vi que o cidadão estava mais pra
lá do que pra cá. Mal se segurava em pé!
E ele disse:
O rapaz falou com o cidadão,
que disse que não tinha problema. Que eu poderia dormir aquela noite em sua
casa!
Pensei comigo... Então tá! Eu
estava no meio do caminho para o PROJAC e também não queria pedalar a noite
pelas ruas desconhecidas.
Aceitei e fui empurrando a
bicicleta ao lado do homem que cambaleava. Perguntei o seu nome... Uma, duas
vezes, mas não consegui entender. Não quis perguntar uma terceira vez.
À medida que íamos comunidade adentro,
todos me olhavam curiosos. As crianças brincando nas ruas durante a noite diziam:
Confesso que fiquei meio
assustado, porque não conhecia a comunidade nem sabia quanto iríamos andar até
chegar a casa dele. Enquanto caminhávamos, ouvi algumas pessoas me chamando de
gringo!
Gringo eu? Ah fala sério!
Chegamos a casa dele! Era um
sobradinho onde viviam várias famílias. Cada família ou morador ocupava um
ambiente de apenas dois cômodos, pelo que pude ver. Era apenas um banheiro e o cômodo principal,
que cada um dividia como queria!
A porta, da casa do meu amigo alegre,
era uma chapa de madeirite, que ficava apenas escorada na entrada. Ele me
convidou para entrar, tudo estava escuro. Procurei o interruptor de luz e meu
novo amigo disse:
Ele colocou um colchonete do
lado de outro colchão que já estava no chão. Deitou-se e disse:
Eu tinha que agradecer por ter
encontrado uma pessoa boa que me ofereceu abrigo. Mas sinceramente fiquei pensando:
E se esse cara passar mal durante a noite?
Era um risco que eu teria que
correr. Só pra garantir pensei em afastar um pouco mais o colchonete.
Pedi a ele se podia colocar a
bicicleta para dentro. Ele disse que sim! Enquanto eu arrumava a bike dentro da
casa, uma mulher que passava no corredor me perguntou um tanto alterada:
Logo imaginei que ela não
tinha visto seu vizinho ali deitado e pensou que eu estivesse mexendo nas
coisas dele! Expliquei a ela que eu estava vindo de Santa Catarina de bicicleta
e que seu vizinho me ofereceu a casa dele para passar a noite!
Para minha surpresa ela
respondeu:
Tomei um choque com a reação
dela! E respondi novamente:
E ela voltou a indagar:
Eu fiz sinal com as mãos,
dizendo "Qual é o problema?"
E ela respondeu:
Fiquei constrangido com a
situação. Pois mesmo sabendo do estado do cara, o fato é que ele tinha um bom
coração e se propôs a me ajudar!
De repente, meu amigo, sem se
levantar de sua cama diz:
Agora sim, foi ele quem me deu a opção da escolha!
Peguei o colchonete e a
bicicleta e subi pela escadinha super estreita. Logo vi o quarto vago, com a
luz acesa e a porta aberta. Bom, ao menos esse tinha porta. Tudo bem, depois
fui descobrir que ela não tinha tranca e que tive que escorá-la com uma lata de
entulho pra não deixar as outras inquilinas voltarem. Que inquilinas? Esqueci
de dizer... havia galinhas dentro do quarto!
Mas na boa, depois de um papo reto
com elas, me deixaram ficar com o quarto. PS.: Naquela noite!
Ainda bem que eu ainda tinha
aquela capa de lençol que comprei na Casa China em Vicente de Carvalho há
alguns dias atrás. Não tinha interruptor no lugar e a luz ficava acesa direto. O que fazia ter muitos mosquitos. Então usei a capa de colchão como saco de dormir pra me proteger dos bichinhos e tentar descansar!
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